Aterrada em Pequim, passei às formalidades. Sair do avião, sair da área internacional, entrar em Pequim, check in, mais uma partida para Guangzhou, antes da etapa final. Mas vamos por partes, já que não foi tudo assim tão sem acontecimentos dignos de nota.
Estava encantada por estar na China, por estar em Pequim. Não ia sair do aeroporto por ter apenas 4h30 de escala, mas estava encantada na mesma e tinha direito a um carimbo no passaporte. Não é fácil perceber dentro de nós, e muito menos fácil explicar para o exterior, como um carimbo num livrinho de papel que por lei não nos pertence pode deixar-nos assim entusiasmados. Deve ser "alimento" para a nossa criança interior. Só pode! Não exteriorizo muito, mas sim, folheio o passaporte e vejo os carimbos todos desordenados nas folhas e sorrio! Ah, mas isso são as lembranças dos locais que os carimbos representam!
Na área internacional do aeroporto de Pequim não me queriam deixar entrar no país. Olhavam para a minha rota de viagem e não deviam perceber nada, já que estava em português. Como eu não tinha visto para ficar no país, nem cartão de embarque para sair dali para fora mandaram-me para um canto. Eu e mais um casal que já lá estava e outro europeu, que afirmava que queria mesmo era ir para as Filipinas, e mais outro e outro e fomos-nos amontoando. Estava tranquila! Éramos vários naquela situação, por isso, tudo se iria resolver. E eu não estava propriamente com pressa. Os meus companheiros, o de viagem e o de etapa, é que já estavam mesmo na China. Entretanto, veio um agente da autoridade chinesa - lembrei-me do sr detido dentro do avião - que começou a organizar o amontoado de pessoas que não tinham conseguido passar a fronteira. Chegou a minha vez e mostrei as evidências que tinha que o meu destino final era Phenom Penh. Só depois de me deixarem passar, de fazer o check in e obter o cartão de embarque teria provas mais evidentes que de não iria ficar ali, pelo menos nesta viagem! Era preciso tirar o rabo da boca desta pescadinha! Lá fomos todos!
E eu fui dormir para um banco do aeroporto. Não tinha cérebro que acompanhasse as leituras desejadas e não havia nada de interessante por ali.
Mal nos foi possível fizemos (eu e o companheiro de viagem) o check in e entramos de novo. Estávamos agora na área de voos asiáticos e foi uma decepção porque o aeroporto de Pequim está organizado de uma tal forma que não permite aos viajantes em trânsito verem o que quer que seja de interessante. Não tínhamos nada para ver, nem para comer e ainda faltavam umas 2 h para embarcar de novo. Partilhei o que tinha com o meu companheiro de viagem. Não tinha rede móvel, nem wi fi. Estávamos numa sala de embarque com outros passageiros e vimos todos a embarcarem. Uns foram para o o Japão (não me lembro da cidade, mas o nome devia ser japonês), outros (a maioria) para as Filipinas e nós e uns pouco mais fomos os últimos a ir para Guangzhou. Entretive-me de várias formas! Uma das brincadeiras foi procurar ver de onde era cada pessoa. Devo ter dado várias vezes nas vistas a torcer a minha cabeça para procurar a origem no passaporte de cada pessoa. De onde é este? E aquela? Humm, este parece ser de... será? O meu companheiro de viagem apostou que um casal, nos seus 50 anos, seria do Cambodja e estaria emigrado em França. Fazia sentido. Pareciam do Cambodja nas suas faces asiáticas em pele bastante morena, tipo indianos. E ele tinha conseguido ver o passaporte francês. Criei-lhes uma história de vida! Passaram a ser para mim pessoas de sucesso, com vida simples, em França, nos arredores de Paris (ai o meu portuguesismo!), depois de terem conseguido sair de um país massacrado.
Entretanto embarcamos! Ah, mas connosco foi uma figura importante. Sabe-se lá quem era, exigia comitiva, exigia que a fila de embarque parasse para que "sua figura importante e comitiva" passassem à frente e exigia primeira classe, claro está!
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