quarta-feira, maio 23, 2007

Maio, mês do (nosso) coração


Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração, e também a Bondade, e a Sinceridade, e tudo, e tudo mais, tudo estivesse realmente no coração. Então poderia dizer-vos: "Meus amados irmãos, falo-vos do coração", ou então: "Com o coração nas mãos". Mas o meu coração é como o dos compêndios. Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral) e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos). O sangue a circular contrai-os e distende-os segundo a obrigação das leis dos movimentos. Por vezes acontece ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados e uma lâmina baça e agreste, que endurece a luz dos olhos em bisel cortados. Parece então que o coração estremece. Mas não. Sabe-se, e muito bem, com fundamento prártico, que esse vento que sopra e ateia os incêndios, é coisa do simpático. Vem tudo nos compêndios. Então, meninos! Vamos à lição! Em quantas partes se divide o coração?



António Gedeão, Poema do Coração