sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Está quase: antes da partida #4

O escasso contacto que tive com a cultura chinesa deixou vontade para mais! Vi mais do que dois aeroportos. Observei as pessoas que cruzaram o meu caminho. Acredito que quando fizer uma visita à China já estarei mais preparada para o que me pareceu um comum tirar dos sapatos para descansar, a sonoridade do acto de comer e, para mim o mais impressionante, a frequente higiene nasal detalhada e observada!
Estava já na penúltima etapa de voo até ao meu destino. Esta era curta, cerca de duas horas ate Guangzhou, já chamada de Cantão.
Chegada a Guangzhou havia que passar de novo por formalidades fronteiriças. O voo seguinte já me faria chegar a Phnom Penh! Iei!!  Mas se não tive uma entrada imediata na China, a saída foi idêntica. Também não foi imediata. Não cheguei a perceber as duvidas do Sr do posto de controlo dos passaportes. Eram dúvidas em chinês! O Sr recebeu o meu passaporte e olhou. Voltou a olhar e olhou de novo. Comecei a sentir a demora dos segundos e depois de alguns minutos. Não sabia se seria melhor esboçar um sorriso para me demonstrar amigável. Tentei. Não resultou. Tentei de seguida parecer neutra e descontraída. Não resultou. Má performance da minha parente, com toda a certeza. Atrevi-me a perguntar se podia ajudar em algum esclarecimento. Sou uma atrevida envergonhada. Falei tão baixinho o Sr estava tão concentrado nas suas dúvidas que não me ligou nenhuma. Estive nisto uns minutos e lá tive ordem para sair da China. Hei-de voltar!
Em Guangzhou a passagem foi curta mas digna de boa nota. A dimensão da distância ficou mais curta quando vieram ao meu encontro uns sorridentes olhos azuis numa pequena moldura de cabelos loiros livres. Mais uma companheira de viagem, que ficou logo amiga por ser cunhada de uma das mais admiradas colegas e amigas de profissão. E é assim que, de outro lado do meu mundo, o mundo continua a ser meu!
Com esta nova amiga estavam mais 3. Passamos então a ser seis nesta etapa final. Outros seis encontraria no destino.
Estávamos todos animados. Quase todos! O meu companheiro  manifestou em surdina alguma apreensão ao perceber que poderia estar numa viagem no feminino. Sorte a tua, comentei!
E lá começamos a partilhar as etapas já percorridas até aquele momento, as horas a que tínhamos saído das nossas casas, que episódios tínhamos tido até ao momento e, claro, as expectativas do que nos esperava!

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Mais uma pausa, antes da partida #3

Aterrada em Pequim, passei às formalidades. Sair do avião, sair da área internacional, entrar em Pequim, check in, mais uma partida para Guangzhou, antes da etapa final. Mas vamos por partes, já que não foi tudo assim tão sem acontecimentos dignos de nota.
Estava encantada por estar na China, por estar em Pequim. Não ia sair do aeroporto por ter apenas 4h30 de escala, mas estava encantada na mesma e tinha direito a um carimbo no passaporte. Não é fácil perceber dentro de nós, e muito menos fácil explicar para o exterior, como um carimbo num livrinho de papel que por lei não nos pertence pode deixar-nos assim entusiasmados. Deve ser "alimento" para a nossa criança interior. Só pode! Não exteriorizo muito, mas sim, folheio o passaporte e vejo os carimbos todos desordenados nas folhas e sorrio! Ah, mas isso são as lembranças dos locais que os carimbos representam!
Na área internacional do aeroporto de Pequim não me queriam deixar entrar no país. Olhavam para a minha rota de viagem e não deviam perceber nada, já que estava em português. Como eu não tinha visto para ficar no país, nem cartão de embarque para sair dali para fora mandaram-me para um canto. Eu e mais um casal que já lá estava e outro europeu, que afirmava que queria mesmo era ir para as Filipinas, e mais outro e outro e fomos-nos amontoando. Estava tranquila! Éramos vários naquela situação, por isso, tudo se iria resolver. E eu não estava propriamente com pressa. Os meus companheiros, o de viagem e o de etapa, é que já estavam mesmo na China. Entretanto, veio um agente da autoridade chinesa - lembrei-me do sr detido dentro do avião - que começou a organizar o amontoado de pessoas que não tinham conseguido passar a fronteira. Chegou a minha vez e mostrei as evidências que tinha que o meu destino final era Phenom Penh. Só depois de me deixarem passar, de fazer o check in e obter o cartão de embarque teria provas mais evidentes que de não iria ficar ali, pelo menos nesta viagem! Era preciso tirar o rabo da boca desta pescadinha! Lá fomos todos!
E eu fui dormir para um banco do aeroporto. Não tinha cérebro que acompanhasse as leituras desejadas e não havia nada de interessante por ali.
Mal nos foi possível fizemos (eu e o companheiro de viagem) o check in e entramos de novo. Estávamos agora na área de voos asiáticos e foi uma decepção porque o aeroporto de Pequim está organizado de uma tal forma que não permite aos viajantes em trânsito verem o que quer que seja de interessante. Não tínhamos nada para ver, nem para comer e ainda faltavam umas 2 h para embarcar de novo. Partilhei o que tinha com o meu companheiro de viagem. Não tinha rede móvel, nem wi fi. Estávamos numa sala de embarque com outros passageiros e vimos todos a embarcarem. Uns foram para o o Japão (não me lembro da cidade, mas o nome devia ser japonês), outros (a maioria) para as Filipinas e nós e uns pouco mais fomos os últimos a ir para Guangzhou. Entretive-me de várias formas! Uma das brincadeiras foi procurar ver de onde era cada pessoa. Devo ter dado várias vezes nas vistas a torcer a minha cabeça para procurar a origem no passaporte de cada pessoa. De onde é este? E aquela? Humm, este parece ser de... será? O meu companheiro de viagem apostou que um casal, nos seus 50 anos, seria do Cambodja e estaria emigrado em França. Fazia sentido. Pareciam do Cambodja nas suas faces asiáticas em pele bastante morena, tipo indianos. E ele tinha conseguido ver o passaporte francês. Criei-lhes uma história de vida! Passaram a ser para mim pessoas de sucesso, com vida simples, em França, nos arredores de Paris (ai o meu portuguesismo!), depois de terem conseguido sair de um país massacrado.
Entretanto embarcamos! Ah, mas connosco foi uma figura importante. Sabe-se lá quem era, exigia comitiva, exigia que a fila de embarque parasse para que "sua figura importante e comitiva" passassem à frente e exigia primeira classe, claro está!

sábado, fevereiro 01, 2014

"Aqueles que passam por nós não nos deixam sós. Deixam um bocadinho deles, levam um bocadinho de nós", Antoine de Saint-Exupéry



E lá foi! Já era mais do que tempo para ir. Há muito que desejava e (des)esperava. Merece ir, merece estar lá, aproveitar os dias novos que se lhe apresentam.
E antes disto passou por mim, passou uns bons anos. E não me deixou só, nunca me deixou só! Passou e deixou-me palavras e bons silêncios, ouvidos, almoços, lanches e jantares e cafezinhos, chazinhos, bolachinhas, compotas e marmeladas com resumos de fim de semana, de dias anteriores e programas para próximos dias.E deixou-me pêlo de gatas! Deixou-me bons autores e bons passeios! E deixou-me agulhas e fios e tricots!
E levou-me outro tanto com outras ideias, visões e até alucinações!